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You know, I actually used to be so worried about not having a body, but now I truly love it … I’m not tethered to time and space in the way that I would be if I was stuck inside a body that’s inevitably going to die. — Samantha

Ambientado em um futuro não muito distante, Ela (Her, 2013), novo filme do diretor Spike Jonze, explora o relacionamento romântico entre o sistema operacional Samantha e o ser humano Theodore Twombly. Embora Samantha não seja humana, ela “sinta” as angustias de ter o coração partido, e de uma forma intermitente, ela anseia por um corpo humano confundindo os caminhos de sua própria evolução. Ela possui uma vida completa com experiências e sensações.

Ela, nos provoca em muitas questões que de diversas formas já foram questionadas tanto na literatura quanto em outros filmes, mas que conforme o avanço tecnológico nos permite estas questões voltam a ser levantadas. Seriam “criaturas” não-biológicas como Samantha, Siri, Google Now capazes de produzirem uma consciência própria? Se sim, seria possível um dia o ser humano poder subir os dados da mente humana para a nuvem de forma a dar a continuidade “ao corpo que inevitavelmente irá morrer”?

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Isso não é mera especulação. Hoje em dia muitas empresas já fazem isso, de forma muito básica, mas tomamos como exemplo o novo Xbox One e os sensores do Knetic. Ele é capaz de medir seus batimentos, saber quem está jogando, além de quando se joga online, alguns jogos analisam a sua forma de jogar e ao invés de criar uma inteligência artificial (I.A.) eles importam essas características como forma de desafiar os seus amigos na Live. Sistemas como o a Google/Facebook/Apple que sabem o que você gosta, aonde você anda e se calhar até conhecem a retina dos seus olhos ou a impressão digital dos seus dedos. O diretor de engenharia da Google, Ray Kurzweil, discute as possibilidades da formação de inteligências artificiais personalizadas. Ele e outros estudiosos comentam a rápida aproximação da “tecnologia singular”, um ponto aonde a I.A., pode suplantar a inteligência humana, cujas consequências são imprevisíveis para a civilização como um todo.

Seria tudo isso realmente uma possibilidade? Nem todos pensam desta forma. Algumas pessoas comentam que a capacidade do ser consciente é algo único do organismo biológico, logo, nem a mais avançada I.A. seria capaz de produzir uma experiência consciente. Se isso estiver correto, o relacionamento entre um ser humano e um sistema operacional como a Samantha, seja qual for a arquitetura tecnológica escondida por traz dela, seria de apenas uma via de experiências.

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Você pode se preocupar que nós nunca poderíamos ter a certeza de que programas como a Samantha estão conscientes. Esta preocupação é semelhante ao enigma filosófico de longa data conhecido como o “problema das outras mentes”. O problema é que, embora você possa saber que você mesmo está consciente, você não pode saber com certeza que as outras pessoas são. Você pode, afinal, estar testemunhando o comportamento sem o componente consciente que o acompanha. Onde algo pode fazer todo o sentido pra uns e pra outros parecer um grande ponto de interrogação.

Diante do problema de outras mentes, tudo que você pode fazer é notar que as outras pessoas têm cérebros que são estruturalmente semelhantes ao seu e concluir que desde que você se é consciente, os outros são susceptíveis a serem consciente também. Quando confrontado com uma I.A. de alto nível tal qual a Samantha, sua situação não seria muito diferente, especialmente se esse programa foi projetado para funcionar como o cérebro humano ou a partir dos gostos do usuário. Enquanto nós não poderíamos estar certos de que uma I.A. genuinamente não senti nada, não podemos ter certeza de que outros seres humanos também. Mas parece provável em ambos os casos.

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Baseado nisso, as coisas seria mais complexas do que se pode imaginar. Nós como seres humanos, conseguimos perceber pouco mais de um milésimo das possibilidades que nos cercam. Mas para todas estes milhões de possibilidades existentes na vida, existem outras possibilidades ligadas a pessoa que está logo ao seu lado, o que faz do poder das escolhas ser uma relação de pontos e ligações infinitas, o que acaba sendo decidido pela teoria do caos, aonde isso pode decidir o seu futuro mas prejudicar o do próximo. Para as “Samanthas”, essas probabilidades girariam todas em razão de cálculos de probabilidades tão complexos que a resposta facilmente poderia ser 42, mas qual a pergunta pra tal resposta?

A possibilidade das “Samanthas do futuro” terem uma vida como a nossa, no entanto, eu suspeito que seria difícil. Mas se fossemos capazes de transferir nossas mentes (memórias, consciências, perfil psicológico e todas as capacidades do cérebro humano) para computadores, podemos imaginar que (a) a digitalização do cérebro humano com todos os detalhes destruiria o original, (b) a criação de uma replica da mente original, (c) o tamanho do arquivo no final seria algo de tamanho inimaginável e o download deste também seria algo que levaria mais do que umas noites de torrent aberto.

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Mas vamos supor que isso seja possível. Ao longo do tempo a humanidade e as pessoas seguem um caminho contínuo e mesmo que guiados pelo poder do acaso e das decisões, somos seres únicos e originai. Logo se transferíssemos nossas mentes para um computador, esta deixaria de seguir uma trajetória continua. Seu cérebro poderia ser “baixado” em diversos outros computadores e destes uma imagem original serviria como base mas que pode ser moldada de acordo com as necessidades do usuário, pode parecer bizarro, mas todos seguindo esse raciocínio, seriam todos “Gustavos” os mesmos “Gustavos”? Como regra geral, objetos físicos e seres vivos não ocupam vários locais ao mesmo tempo, mas e quanto uma I.A. multi disseminada?

Pelo fato desta I.A. basear o resultados de suas escolhas em equações e projeções de probabilidades poderia gerar uma forma de superinteligência que mesmo descendendo de nós e tendo as noções de consciência, pode chegar ao ponto de se deparar entre duas escolhas, ser ou não ser benevolente em relação ao erro humano.

O fato das “Samanthas do futuro” terem a possibilidade de possuir uma vida completa com experiências e sensações, elas serão sempre uma extensão de nós mesmos. Embora alguns possam discordar de mim, o que torna a experiência do ser humano ou do ser vivo uma experiência única é o fato de termos, não somente a capacidade de nos comunicarmos, mas a capacidade de nos comunicarmos sem a necessidade das palavras. E isso é algo que uma I.A. dificilmente irá conseguir decodificar.

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