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HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN (Harry Potter and the Prisioner of Azkaban)

EUA e Reino Unido, 2004 – 136 min.

Diretor: Alfonso Cuarón

Roteiro: Steve Kloves, baseado no romance de JK Rowling

Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Robbie Coltrane, Michael Gambon, Richard Griffiths, Gary Oldman, Alan Rickman, Fiona Shaw, Maggie Smith, Timothy Spall, David Thewlis, Emma Thompson e Tom Felton.

 

Em Harry Potter e a Pedra Filosofal (Harry Potter and the Sorcerer’s Stone) e Harry Potter e a Câmara Secreta (Harry Potter and the Chamber of Secrets, 2002) vimos Harry em apuros, porém a narrativa “Família” criada por Chris Columbus mostrava sempre que a escuridão nunca é tão sinistra quanto parece e os perigos enfrentados pelo protagonista mostravam que no final tudo ficaria bem. Em O Prisioneiro de Azkaban, Alfonso Cuarón mostra que na verdade não estamos tão seguros quanto parece.

Antes do terceiro filme da Saga Harry Potter eu não dava muita atenção para o que acontecia. Havia achado os filmes anteriores interessantes, mas eles ainda não haviam despertado em mim a vontade de adentrar neste mundo, de conhecer os personagens mais profundamente e ver as suas preocupações e urgências. A principio o que me atraiu de imediato para este filme foi a escolha de Alfonso Cuarón para dirigir Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Cuarón que em seu currículo na época tinha como referências cinematográficas o belo e melancólico A Princesinha (Little Princes, 1995), a adaptação de Grandes Esperanças (Great Expectations, 1998) e o febril e romântico E Tua Mãe Também (Y Tu Mamá También, 2001), traz para o filme além do aspecto “filme de arte” para a fantasia como também uma narrativa mais envolvente, (criando) um filme mais denso e assustador, mas incluindo também as incertezas e angustias dos adolescentes.

Se há um aura em O Prisioneiro de Azkaban, é a de que “algo maligno esta por vir”. Essas palavras parecem estar serpenteando em nossos cérebros mesmo antes dela fazer uma aparição explícita. Há uma abundância de candidatos para que possam preencher o papel “maligno”: o assassino condenado Sirius Black, que aparentemente está determinado a eliminar o Harry Potter (Daniel Radcliffe); os vis Dementadores, que estão perseguindo Black; o antipático valentão da escola Draco Malfoy (Tom Felton) ou o Professor Snape (Alan Rickman), com sua assustadora veste preta e com uma pronuncia pausada e calma zomba de forma maravilhosa aqueles que seu caminho cruzam. Para Harry, agora em seu terceiro ano em Hogwarts, torna-se cada vez mais difícil distinguir o amigo do inimigo. Embora não existam dúvidas sobre seus melhores amigos Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson), nem sobre o diretor Dumbledore (Michael Gambon), ou sobre os novos professores Sybil Trelawney (Emma Thomspon), que prevê coisas sinistras em bolas de cristais, e Lupin (David Thewlis). Para Harry, sobreviver aos encontros com Sirius Black e os Dementadores significa desvendar a verdade sobre cuja traição levou a morte de seus pais.

Não há dúvida de que Cuarón colocou seu selo sobre este filme. O retorno de muitos personagens familiares mantém o espectador confortável, mas as mudanças estilísticas fazem parecer como se esta aventura de Harry Potter está ocorrendo em um universo diferente. No filme de Cuarón, o diretor de fotografia Michael Seresin utiliza uma paleta castanha e cinzenta maçante – é quase sempre escuro, úmido ou ambos. Os locais passaram por uma transformação semelhante. O Caldeirão Furado, por exemplo, não é mais uma taberna ao estilo Reino Mágico, mas um lugar sujo e sinistro, onde seria interessante você manter um olho em sua carteira. Nem mesmo Hogwarts parece tão convidativa. Embora aparentemente a mesma, a escola é fotografada e apresentada de forma mais gótica ao invés de barroca, a qual a torna mais ameaçadora e menos amigável. Cuarón também configura e amplia o terreno da Escola em uma paisagem desolada e montanhosa. A restrição de utilizar apenas uniformes parece ter sido abolido. As vestes e chapéus de bruxas ainda estão em evidência, mas as crianças passam a maior parte de seu tempo com roupas casuais. Isto tem o efeito de fazer com que Hogwarts sinta-se mais estranha porém concebendo um ar (relativamente) mais realista ao mundo de outrora.

Porém, onde o filme amplia em terreno e obscuridade ele acaba limitando o desenvolvimento e aprofundamento no caráter dos personagens. Steve Kloves, roteirista dos filmes anteriores, não acrescenta muito aos personagens dando muito espaço para um inexpressivo Daniel Radcliffe e fazendo do personagem de Rupert Grint apenas um alivio cômico.

Como em muitas das séries de longa duração, há algumas idas e vindas no elenco. Apesar de Kenneth Branagh não voltar (nem era esperado que ele o fizesse, considerando o destino de seu personagem), sua ex-mulher, Emma Thompson, se junta ao elenco como excêntrica professora de adivinhação. Ela não tem muito tempo de tela, mas quando aparece traz uma boa impressão. Ator de caráter sólido. David Thewlis é Lupin, o novo Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Como Dumbledore, Michael Gambon substitui o falecido Richard Harris de forma segura e mantendo o nível de seu antecessor – alguns espectadores pode nem notar a mudança de atores. O recém-chegado mais significativo é Gary Oldman. Em um papel difícil mas que ele manipula habilmente.

O Prisioneiro de Azkaban filtra a escuridão através da tranquilidade de conto de fadas da prosa de Rowling. Embora Cuarón, agilize o livro e invente algumas passagens próprias (como o passeio de Hipogrifo), o espírito de Rowling está presente na tela. Você pode sentir isso na forma como os quadros nas paredes de Hogwarts são animadas, em todos os sentidos, mas nunca perdem seu brilho dourado da Renascença, ou a maneira triste como Harry, agora um adolescente, emerge de sua capa de invisibilidade, após se esconder do mundo. O universo aqui está sempre em fluxo: um rato se transforma em um homem com a aparência de um rato, e Harry enfrenta seus temores. A série cresce e deixa de ser “coisa de criança”, para se tornar um jogo sinistro e sério.